A Garrafa do Faroleiro do Nordeste
Em 1982 quando aluguei um quarto na Vila de Nordeste , Ilha de S. Miguel, Açores, a um ex-faroleiro havia algo maravilhoso em cima de uma cómoda, um veleiro dentro de uma garrafa.
O mais fantástico, no entanto, era que não havia qualquer corte na garrafa, indicando que tinha passado pelo gargalo e, sobretudo, não havia qualquer eixo na base dos mastros de modo a que pudessem ser dobrados.
Todas as noites antes de adormecer observava essa garrafa e colocava hipóteses sobre como a escuna teria entrado pelo gargalo, pois disso não havia dúvida. Como se teriam articulado os seus mastros sem um eixo na base de cada um?
Perguntei ao Sr. Manuel Julinho, ex-faroleiro e dono da casa, mas a garrafa tinha sido feita por um tio-avô -também faroleiro- e ele nunca tinha aprendido a técnica.
Em 1984-85, no meu último ano no Nordeste, resolvi comprovar a hipótese que acabei por considerar a mais pertinente: usando estiletes que empurrassem o topo e a base dos mastros, estes acabariam por erguer-se e seriam amparados pela pressão das enxárcias (cabos laterais que ligam o topo do mastro ao casco da embarcação). Se bem o pensei melhor o fiz e nasceu a minha primeira garrafa, intitulada "Madalena do Pico", que surge no post anterior.
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Luís Sérgio